segunda-feira, 29 de outubro de 2012

MOLEQUE SAFADO


Espírito que levo dentro da alma
Moleque tão safado e sem paragem,
Levando a vida numa sacanagem,
Somente algum sorriso me traz calma,

A vida é conhecida em cada palma,
O resto, diz cigano; uma bobagem
Se a gente fosse agente, molecagem,
Garanto não teria nenhum trauma.

Perdendo antigas rédeas, carruagem,
O resto que aprendi foi traquinagem,
Seria muito bom, desde menino

Se esse espírito fosse diferente,
Porém o que fazer; fala-me gente,
Se o que levo comigo é tão suíno...

ENTRE AS ESCARPAS DA ILUSÃO

Caminho entre as escarpas da ilusão,
Penhascos, pedregulhos, precipícios.
Minha alma rastejando no porão
Carrega dentro dela velhos vícios.

Um corpo condenado à podridão,
Conhece muito bem os seus ofícios,
Quem sabe o crematório... Este carvão
Exploda em vários fogos de artifícios...

Audaz, tentei tocar falsos altares,
Vibrando em discussões, freqüentei bares,
Em tristes lupanares, me entreguei,

Agora, carcomido pela vida,
Um pária preparando a despedida,
Vociferando insano grita: amei!

É MESMO ASSIM


O amor é mesmo assim, este travesso
Fazendo da loucura uma artimanha,
Virando o coração de ponta e avesso
Remove mais que fé qualquer montanha,

E quando a escadaria do céu; desço,
Aprendo com Cupido cada manha,
Às ordens deste deus eu obedeço,
Senão ele castiga. Se ele assanha

E só deixar rolar e nada mais,
Somente o amor completo satisfaz
Mergulho na vontade sem jamais

Deixar de repetir a mesma dose,
Curando de ferida até de antraz,
Amor sara frieira, dor, micose...

APAGANDO TEU NOME

Apagando o seu nome da memória,
Talvez seja melhor para nós dois,
Não me importa se existe uma vitória,
Melhor deixar o assunto pra depois.

Bebemos deste vinho/embriaguês,
E gargalhamos loucos pelas ruas...
Depois que o amor em cálice se fez;
Quebramos os cristais, matamos luas.

Mas tanto faz querida, a vida segue,
Eu pego meu boné e vou embora,
Por mais que o coração tão tolo negue
Chegou sem mais desculpas, a nossa hora;

Não venha destilar sua peçonha,
Vacina neste caso é ter vergonha...

NOVO ALVORECER

Prenunciando um novo alvorecer,
Após a solidão da noite escura,
Não quero mais somente esta amargura,
Eu necessito urgente de prazer.

Mas não destes prazeres de balcão,
Vendidos nas esquinas e puteiros,
Eu quero ter momentos verdadeiros
Enlouquecido e tonto de paixão...

Rasgando o meu passado de uma vez,
Tomando, num segundo cada espaço,
Aliviando em paz todo o cansaço
Amor que se traduza em solidez,

E mostre a sua face sem vergonhas
Debaixo dos lençóis, por sobre as fronhas

AS MARCAS DO QUE FOMOS

Nostálgico, procuro pelas ruas
As Marcas do que fomos no passado,
Estrelas envolvidas por mil luas,
O velho coração enamorado.

Enquanto as fantasias eram tuas,
O canto sob o céu enluarado
Distante dos meus olhos continuas
Procuro e nada vejo aqui do lado...

Seríamos dois pobres sonhadores,
Aguando com as lágrimas as flores
Que há tempos já murcharam. Nada resta

Apenas o luar enfumaçado,
E o verso sem sentido; embolorado,
E a serenata soa, vã, funesta...

TOCADO PELA INSÂNIA DESTE AMOR

Suspira o sentimento mais atroz,
Tocado pela insânia deste amor,
Que um dia se fez rio e quis ser foz,
Um novo dia belo e encantador,

Porém qual fora fera sobre nós,
Invés de simplesmente puro ardor,
Ciúme enlouquecendo, tão feroz,
Com seu pleno poder destruidor,

Gerou uma pantera insaciável,
Tornando assim meu ar irrespirável
E tudo que era belo, se quebrou,

O amargo de perder o nosso rumo,
Tomou a doce fruta e todo o sumo
Ao mesmo instante, logo se azedou...